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25 de fev. de 2015

Sobre Êxodo: Deuses (?) e Reis.

     Depois de muito resistir, fui assistir a “Exôdo: Deuses e Reis”. Minha resistência se deu porque este é um momento bíblico que sempre gera muita polêmica (e filmes: os 10 mandamentos e O Príncipe do Egito para citar alguns). Mas, a maior de todas as motivações que sempre acaba amolecendo minhas barreiras foi “como vou ter uma opinião se eu não assistir?” Assim, lá fui eu, bem acompanhada de uma amiga – que coincidentemente é historiadora – rumo a algumas horas de experiência cinematográfica.
     Eu sei, eu sei, você que está me lendo está se roendo, mas acredite, eu mesma estou me roendo para ver o que eu escrevo. Notadamente, por eu ser setiana, esperam-se algumas vociferadas – ok, um monte delas. Sim, elas vem, mas por enquanto estou tentando (e muito, acredite) não transformar este texto numa avalanche de letras maiúsculas e imprecações ao Ridley Scott e Cia ltda.  E lá vamos nós.

     Falar do erro étnico de colocar um ator com traços puxando para orientais para interpretar Ramsés, o filho de Seti I (AUS) interpretado por John Turturro (sério, é o mesmo John Turturro malucaço de outros papéis) são 2 erros em uma só frase.
     Ramsés II (AUS) era ruivo, orgulhosamente ruivo e teve uma vida longa e próspera em Kemet - e clique aqui, se quiser vê-lo como realmente era. Ele foi um dos maiores governantes que já existiram e sua época é simplesmente uma era de ouro incomparável na história de Kemet. Caracterizá-lo como mimadinho do papai, indolente, incapaz, sujeito a manipulações políticas, atos de barbárie pode até ser uma licença poética.
     É uma licença complexa, é verdade, já que tudo que ficamos sabendo sobre Ramsés II (AUS) nos diz que ele era o oposto de tudo isso. Porém o que chegou até nós foi tudo escrito pelos egípcios e bom, ninguém vai fazer propaganda negativa sobre seu rei, não é? Tá, eu sei, a não ser Akhenaton, mas aí é outra situação. Indo mais além, colocar Ramsés II (AUS) na época que os hebreus estavam escravizados construindo pirâmides é como afirmar que a Inconfidência Mineira e a construção de Brasília aconteciam simultaneamente.  Ou que o rei Leônidas de Esparta jogava God of War no seu Playstation: um abismo histórico.
      Aí vamos ao figurino. Ouro e joias lindíssimas de ficar babando? Presente. Roupas de linho? Presente. Moisés (e não só ele, detalhe) de armadura preta dentro de fora do campo de batalha? Presente. Isso mesmo, armadura preta no Egito. 
À esquerda, armadura do rei, tipicamente egípcia.
 À direita, a armadura escura de Moisés.

Inclusive  esta armadura (toda ou em parte) é usada dentro do palácio, no meio de todo mundo usando suas túnicas de linho. Sim, eu sei que ele no filme é um comandante militar, mas ele também é o filho adotivo do rei. Ele não é um soldado tirando guarda, ele é um príncipe. Príncipe, destes que tem joia, coroa, tecidos finos, anéis, guarda pessoal, aposentos enormes, luxo e poder, sabe? Ele não é um jagunço perambulando armado o tempo todo do lado do seu coronel, pessoa que montou o figurino do filme! Por favor, pesquise, pessoa que montou o figurino!

     Ok, pausa. Respiração.
    
    Prosseguindo, uma pergunta. O que a Sigourney Weaver foi fazer lá? Se tivesse um alien, eu entenderia, mas no mais ela só apareceu para ostentar ouro e fazer fofoca com o rei egípcio-oriental-careca-mimadinho (porque me recuso a chamar de Ramsés aquela criatura, é uma ofensa ao verdadeiro).


    Falando sobre os hebreus, a caracterização de Javé, seu Deus, foi perfeita. Estou falando sério aqui, de verdade. Já li muito sobre o cristianismo e religiões abrâmicas, e nunca, nunca tinha visto ninguém ter um insight que captasse tão bem a essência do Senhor dos Exércitos: Javé é uma criança! 



     Moisés o questiona, Javé responde “porque eu quero”. Moisés diz que precisa de tempo para que as coisas aconteçam, Javé responde “Não, agora vamos fazer as coisas do meu jeito porque não quero esperar”. Moisés argumenta que as pragas prejudicam a todos, não só os egípcios, Javé responde que é assim que ele vai fazer e pronto. Ora, quem se comporta assim não são as crianças? Nada de homem de idade, cabelos brancos e barba longa com voz de trovão.  O que temos é um menino intempestivo de olhos intensos, magrinho e aparentando não mais que 10 anos. Se você ler o Antigo Testamento fica fácil, muito mais fácil de compreender a série de exigências, leis, situações e afins que Javé faz o tempo todo se pensarmos nele como um menino. 

(continua)

27 de ago. de 2014

Awen para quem é de Awen

Eu gosto de pessoas, de estar com elas. Nasci curiosa e cosmopolita. Nunca fui dessas crianças que só querem ficar com os pais, estranham os outros, essas coisas. Pelo contrário, eram meus pais que tinham que falar para eu voltar para casa, porque se dependesse de mim... Mas essa é outra prosa.

Uma das coisas que eu faço, já de longa data é ter contato com pessoas de diferentes estilos, opiniões, idades, nacionalidades, sexualidades... e religiões. Eu visito, eu converso, eu pergunto, eu vou lá e vejo, tiro minhas próprias conclusões, extraio uma vivência que cimenta minha opinião. É meu momento antropológa. 
Ao longo dos anos venho conhecendo e armazenando vivências (e amigos!) dos mais variados.

E o que isso tudo tem a ver com Egito e minhas práticas? Tudo. Conhecer os "vizinhos", estar aberto a outras culturas, sempre fez parte do Egito. Como posso eu não me dispor a fazer o mesmo?

Agora, neste ano de Aset, a Senhora da Magia, senti que era hora de falar. Decidido, feito. 

Ah sim, tudo que eu falar, não só neste, mas em outros posts são minhas impressões e, se alguém se ofender, dois trabalhos: se ofender e se desofender.. 

Começo falando sobre uma experiência legal demais que tive com o povo que se dedica a espiritualidade celta aqui na terra Brasilis.Em 2012 tive o prazer e o privilégio de ser convidada para o IIIº EBDRC - Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta, que rolou aqui no RS.

Lá pude ter contato com uma galera dos mais remotos cantos do Brasil - até gente do Acre eu conheci - e que, das mais variadas maneiras dedica sua fé aos deuses e deusas das terras das brumas. Uma das coisas que eu mais gostei foi saber que todos eles, em graus diferentes, honram a terra. A terra é essencial, importante, única, e a conexão com a natureza é inerente a suas práticas. Neste processo, muitos acabam por descobrir suas raízes, sua ancestralidade e a conhecer  e interagir com tudo que faz parte do lugar onde moram. 

Uma destas pessoas, que me deu a oportunidade de conhecer um tanto sobre os indígenas aqui no Brasil foi o Druida do Vento - o dono da risada mais poderosa ( e divertida) que eu já vi. Eu aprendi sobre os Encantados com a fada do Acre. Eu descobri que tenho uma irmã gêmea celta, balancei minhas saias coloridas dançando músicas irlandesas, passei de um mundo pra outro, bebi hidromel e gargalhei, e tudo isso no meio de uma crise alérgica sem precedentes. E, ainda por cima, fui anfitriã em uma tarde de domingo cheia de fotos e passeios na minha cidade. 

 Com o povo celta eu aprendi e continuo aprendendo, pois ainda mantemos contato, a me reconectar com a natureza de uma maneira diferente, através da ancestralidade da terra. Eles não tem deuses de um povo, mas de vários, de gauleses, escoceses, irlandeses... Eles são reconstrucionistas, druidas, os que tem sua própria denominação,ou mesmo não tem. E todas essa diferença, junto com a questão da ancestralidade da terra,  acrescenta uma variedade que acaba criando experiências de religiosidade muito singulares mesmo. 

Awen, seus lindos. Espero ser sempre bem recebida por vocês. 

P.S: o Druida do Vento fez um post mó lindo sobre o que rolou. Se quiser, espie aqui.

30 de jun. de 2014

De repente, 30 - S06

Bicho pegou, postagem atrasou. Retomando. ;)

Semana 6 – Outras deidades e entidades relacionadas com a deidade

Khepera
No Egito não existe somente uma cosmogonia. Elas mudam de acordo com o tempo e com o lugar. É assim que existe mais de uma divindade criadora além de Khepera. Por este viés, cito Rá, Tem, Ptah. Já pelo aspecto solar, Rá.

Set
Ahn... então. Não tem nenhuma outra deidade/divindade que possa se relacionar com Ele porque os seus atributos são únicos. Mas vamos ver... se pensar por cor, eu diria Sekhmet já que ambos tem a ver com Vermelho. E... é, só isso. Pois é. 






18 de jun. de 2014

De repente, 30 - S05

Semana 5 – Família da deidade, árvore genealógica.

Khepera

Então, quando se é um demiurgo, não é muito difícil falar de sua árvore genealógica:

Nun -> Khepera -> A vida, o Universo e tudo mais.

Indo além, numa prosa com a Paut sobre esta questão familiar específica de Khepera, pensamos que seria legal falar, talvez de nós, que somos Suas filhas.  
Atualmente, somos três as filhas de Khepera: eu, Paut e a Shu, nossa irmã caçula e importada dos EUA. Passei um bom tempo na HON sendo a única das filhas de Khepera e alguns anos mais tarde, quando a Paut foi divinada como sendo filha Dele também foi muito legal, porque já mantínhamos uma amizade grande. 
Aí, em 2012 veio a Shu e eu tive a oportunidade de participar da cerimônia de nomeação dela e acabar sendo uma das madrinhas da filhinha dela também - adoro as surpresas do universo! Até agora não apareceu nenhum filho de Khepera, mas vamos ver se a família aumenta, né? 

Set

Montei um esquema que fica fácil de visualizar quem é parente de quem. Enjoy!






13 de jun. de 2014

De repente, 30 - S04

Semana 4 – Um mito favorito

Khepera

Falar de um Netjeru (deus) de Criação é, ao mesmo tempo amplo e restrito. A criação, ampla...mas restrita por que o que há para se falar além da Criação? É tudo e nada, um paradoxo pois Ele É e, bom, vamos ao mito.

Khepera, imerso nas águas de Nun, emerge. Em uma flor de lótus, no raiar do primeiro dos dias, cria a vida, o universo e tudo mais. É sol que que transmuta, cria e conserva, resplandecente nos céus. 



Set
Não, não vou falar sobre Set e o assassinato de Wesir - leiam lá no PasemWesir.

Um dos mitos que eu mais gosto é sobre Ra e Set. Depois das contendas entre Heru e Set, os deuses foram convocados para julgar a situação e decidir afinal, quem deveria ocupar o trono de Kemet. Deliberações daqui, acusações dali, conselhos de lá, decidiu-se que o trono deveria ir para Heru-sa-Aset e Set deveria ser punido e exilado por conta de suas atitudes pouco ortodoxas para conquistar o trono. Foi então que Ra levantou-se e sugeriu que um guerreiro do nível de Set não deveria ser desperdiçado com punições e restrições. Assim, convidou Set para ir para seu barco, posicionar-se na proa com sua lança para lutar e derrotar Ap*p , o incriado. Apesar dos protestos (principalmente de Aset), Set aceitou o convite (provavelmente com uma piscada de olho e aquele sorriso de "eu não disse" que só Ele tem) de Ra e todas as noites é lá que Ele está, matando Ap*p  e ajudando a garantir que o mundo seja ainda um lugar legal para nós todos os dias. 

26 de mai. de 2014

De repente, 30 - S03

Semana 3 – Simbologias e ícones da deidade


Khepera

Scarabaeus sacer, o nome científico do escaravelho, o animal associado com Khepera. Negros como a noite, fortes como touros (guardadas as devidas proporções). Rolam incansáveis suas bolas de esterco e delas, dão continuidade à vida, de onde surgem, se autocriando.
Vida, ligada diretamente ao sol nascente, o poder que se renova a cada dia. Assim, Khepera,  é o deus-sol-besouro, representado como um homem com um besouro no lugar da cabeça ou um homem com um besouro sobre a cabeça. O besouro, seu símbolo, era usado como selo, enfeite, amuleto... Totalmente trend desde muito antes de Cristo até agora.

                                                             Set
O javali, o hipopótamo, o porco e o asno são, tradicionalmente, animais associados a Set. Entretanto, não há consenso sobre que animal é o que representa o deus Vermelho.Também chamado de Sha, pode ser uma figura quase mítica: um animal com cauda bifurcada, corpo de chacal e orelhas pontudas. Não se sabe ao certo se é um animal extinto, não compreendido ou inventado, mas recentemente rolou o anúncio de que este animal seria um Aardvark (será?).
Set é representado por um homem com a cabeça do animal Sha, carregando o bastão Was.


18 de mai. de 2014

De repente, 30 - S02 E02

Set

A gente começa a ler sobre Egito, invariavelmente vem a história de Wesir e Seth e como Seth é mau e matou o irmão e perseguiu a esposa e tentou matar o herdeiro e usurpar o trono e ele é uma serpente-monstro e zás e zás. 
Passei um bom tempo nessa, mas sempre meio intrigada. Depois, quando estava me aventurando nas "artes negras" ( música sinistra ao fundo), descobri sobre o Templo de Seth e como Seth era muito, muito malzão mesmo. E aí, como certa vez eu ouvi de alguém muito sábia e querida, "o mal tem belos olhos". 
Olhei. E lasquei-me! Eu queria saber mais, mas ao mesmo tempo, ficava receosa. Aí fui espiando daqui e dali, assim meio de longe pra garantir a segurança.
Aí curso de iniciantes da HON. Papos e madrugadas com meus colegas de curso, estudos e práticas. Uma noite, tive o sonho mais incrível e realístico de todos os tempos, com um deserto, um ritual e uma tempestade de areia. Alguém gritava "Set!" e eu acordei, tremendo,encharcada de suor, fervendo e com o coração parecendo que tinha corrido uma maratona. 
Ingenuidade pouca é bobagem...  minha corrida com Set estava só começando. 



14 de mai. de 2014

De repente, 30 - S02 E01

Semana 2 – Quando você descobriu a existência dessa deidade? O primeiro contato.

Khepera

    Ah, eu gosto de besouros. 
   Onde eu morava, tinha um playground e toda hora passavam os besouros, escaravelhos negros como a noite, caminhando pra lá e pra cá. Tinha gente que judiava, outros fugiam de pavor - já eu ficava maravilhada com eles bamboleando com sua pernas compridas. Muitos eu ajudei a desvirar, emborcados naquela profusão de patas sem sair do lugar. 
    Eu sempre gostei de besouros.
   Quando eu via nos livros, páginas de besouros, lindos e preciosos como jóias - verdes, azuis, dourados, vermelhos... Aquilo era o máximo! Queria todos eles, não para colecionar, mas porque eles tinham toda minha atenção. 
   Aí a gente cresce e aprende na escola sobre o Egito. Suprise, surprise! Os egípcios usavam o escaravelho como selo real, como talismã e inclusive tinham um deus que era um escaravelho!  Era demais!
     Daí a pessoa lê livro daqui, espia dali, rouba de lá - e quem diz que nunca rasgou uma página de revista ou folha de jornal com algo que gostou, está mentindo feio - com o que conseguia encontrar sobre o assunto, de Egito e claro, do escaravelho, do deus aquele, como era o nome mesmo? Khepera. 
    Ah, eu amo o sol. Fico triste sem ele, fico irritada em dias frios, não posso ficar sem espiar pra ele de manhã. O sol me faz sorrir, me deixa seu abraço durante o dia - e, como astro rei, tem seus momentos de surto e me queima, mas eu nunca liguei pra isso.
     Eu sempre gostei do sol.
    Os anos passam, aí a gente estuda mais e pratica e lê. E...parece que ainda assim algo faltava. Não, o deus besouro não falava comigo. Era diferente. 
     Ninguém me saudou ao ar livre, enquanto eu corria por aí molecando no meio de árvores num dia de verão. Não foi com voz, mas sim com sentimento que Ele me falou e aí meu coração ouviu. Sim, sim. 

 Besouros. 
 Sol. 
 Khepera.  



12 de mai. de 2014

De repente, 30 - S01 E02

1 - Uma introdução básica sobre a deidade
Khepera

    Quando se pensa em Egito, se pensa em pirâmides, deserto, rio Nilo e é claro, no sol. 
    São sempre as imagens do sol a brilhar, beijando as águas do Nilo ou enfeitando as dunas de dourado.     Não há Egito sem sol, e Khepera é o sol.
    Ele é o sol criador e doador de vida. É o abraço cálido, o calor energizante, a luz que nos faz sorrir depois da noite que findou. 
    Khepera é um demiurgo, a força criadora primordial que emergiu das águas de Nun e iniciou a criação - começando por sua própria.
Sua origem se perdeu nas areias do tempo (até porque se existe o tempo, foi porque ele o criou - é, um paradoxo), e, junto com o falcão, constitui-se na deidade de culto mais antigo no Egito. 

6 de mai. de 2014

De repente, 30

Aí a ideia é fazer 30 postagens semanais sobre uma deidade. Escolhi falar de duas, já que tenho dois Pais Divinos, Set e Khepera.  :)

1- Uma introdução básica sobre a deidade
Set

    Pensar em Set por si só já é polêmico. Tradicionalmente Ele é retratado como assassino, usurpador, invejoso, estéril, cruel, impiedoso, e tantas outros títulos feios. Seu nome tornou-se sinônimo de destruição, monstruosidade e até demônio acabou virando. Bom, enquanto escrevo, sinto a presença Dele bem próxima - indiscutível e única - e ouso ainda dizer que boa parte dos títulos me vieram à lembrança por sugestão dele, inclusive. 
    Não, não virei esquisotérica daquelas que pensa que um raio de sol refletido na parede já é uma mensagem de Rá, mas ter contato com os deuses é parte essencial da minha religiosidade. E Set, em sendo um dos meus Pais Divinos, não ficaria fora dessa prática.   
    Ele é o terceiro dos filhos de Geb e Nut. Ou seja, temos Wesir como primeiro na linha de sucessão real, aí vem Heru-wer e por fim, Set. Todas as obrigações e cerimônias recaem para Wesir, como futuro rei. Heru-wer é o próximo, caso a algo aconteça, e assim seu foco está em explorar, lutar e guerrear pelo mundo a fim de tornar-se mais forte. E aí temos Set, cheio de poderes, repleto de energia e longe das burocracias da realeza.  
    Ora, convenhamos,  vamos fazer um exercício: você é um deus, com terras,  pessoas que te adoram e não tem que ficar preso a nenhuma convenção de nada, por que não... causar um pouco? E assim é. Set é a tempestade de areia, o mar revolto, o relâmpago que incendeia árvores. É o tornado que derruba cidades, o caminhão de cerveja que tomba, a pasta que caiu no chão e espalha relatórios. São todas as forças incontroláveis e inevitáveis que transformam drasticamente o que quer que toquem.   
    Ele ri, uma risada rouca que mais parece um rosnado, muitas vezes no meio destas situações. Não é um deus louco ou mórbido, tampouco cruel. É apenas aquele que faz o que deve ser feito, não importa o que vá acontecer com ele, e assim um novo cenário possa se configurar: a cidade é novamente construída e fica mais eficiente, a estrada fica mais segura depois do acidente (e uma galera ainda pega cerveja grátis!), os relatórios tem que ser refeitos de um modo melhor. Voltemos ao exercício: como não rir se a galera pegou cerveja grátis, agora está fazendo uma festa e isso tudo por algo que você, que é o deus, fez?
    Você sorriu, né? É. Bem vindo ao lado B de Kemet.  




6 de ago. de 2013

KRT - Multiple paths

       This round of KRT was about to have multiple spiritual paths while kemetic. When I say "it was" is because I'm late to post. I know, I know, there's another post already scheduled but I'll post anyway.
       The question "But I'm _ _ _ _ _ (insert what you want), can I be kemetic too?" is in top 10 of most asked questions I have seen. Yes, you can but you need to follow certain conditions, in my opinion.
       Well, in this life I believe in energy. And coherence. I know there are kemetic orthodox people who follow monotheistic religions. To me, this is an antagonistic energy shock and a lack of coherence both in epic level - "there's no god except me" monotheistic religions say. What follows next is pretty logical (or ilogical): if there's no possibility to have another god, then it's wrong follow other god(s) and here we have an incompatibility. Some people will say that due to monolatry aspec of kemetic orthodoxy this situation is possible because Netjer would be YWVH/Jesus/Yoshua/Allah with other name. This idea is broke by remembering the monotheistic approach about exclusive cult.
        After that, it comes respect. Not that kind of "social" respect people claim to have, but the respect about paths someone has chosen (or was chosen). I'm a great enthusiast of  Hellas Pantheon and I have a crush on Hermes. Hellenic libations, for instance, are different from kemetic libations. Due to respect, I'll keep them like they are and I won't change anything to kemetic because it's easier. This is respect the tradition,  the gods, the devoutness. 
          Then it comes commitment. To keep yourself loyal to path's principles, to oaths you took, promises you made. You, buddhist and dharma believer, believe it. You, triple law-skyclad-wiccan, celebrate. However, you must understand that depending where you are in House of Netjer, you must honor kemetic gods and their festivals first. You'll need time for that.
         I believe in diversity. Then, if there's someone who feels inclined to follow another path along with kemetic orthodoxy (or the opposite, follow kemetic orthodoxy being from another path), consider energy, coherence, respect and commitment. Of course, consult the gods, for sure! If everything is ok, have a great journey. 
           And about invitations to another religions rites? Same process. But always remember the most important item to consider: be yourself!

MRK - Diferentes Caminhos

        O tema da Mesa Redonda Kemética da vez foi sobre se ter diferentes caminhos espirituais enquanto kemética. Quando digo "foi" é porque estou atrasada com a data, mas mesmo já tendo outro tema agendado para em breve, resolvi embarcar mesmo assim.
        Enfim.
       Essa é uma das dúvidas que está no top 10 das perguntas que eu vejo e que me fazem. "Mas eu sou _ _ _ _ _ (insira o que quiser), posso ser kemético?" Sim, mas é preciso observar uma série de condições, a meu ver.
        Primeiro que nesta vida, eu acredito em energia. E coerência. Sei que existem pessoas praticantes de religiões monoteístas e que também são keméticas ortodoxas. O que, na minha opinião, constitui um choque de energias antagônicas e uma falta de coerência em níveis estratosféricos - afinal, "não haverá deus além de mim", prega o monoteísmo. O resto é bem lógico (ou ilógico), pois se não pode haver nenhum outro deus, logo é errado cultuar outro(s) e por isso haveria incompatibilidade. Alguns argumentarão que por conta da monolatria isso seria possível pois Netjer seria Javé/Jesus/Yoshua/Allah com outro nome. E novamente eu refuto o argumento por conta da condição exclusivista de culto do monoteísmo. 
        Depois, vem o respeito. Não aquele respeito enlatado de resposta pronta, mas o respeito com relação aos caminhos que a pessoa escolheu (ou foi escolhida). Eu mesma sou uma grande entusiasta dos deuses da Hélade, de flerte assumido com Hermes. As libações helênicas são diferentes da libações keméticas. Por respeito, vou mante-las como são e não fazer tudo kemético porque para mim é mais fácil. É respeito às tradições, aos deuses, à religiosidade. 
        E aí, vem o compromisso. O se manter fiel aos princípios do caminho, os votos assumidos, as promessas feitas. Você budista crê no dharma, creia. Você wiccano da lei tríplice que celebra vestido de céu, celebre. Mas entenda que dependendo do seu lugar na House of Netjer, você terá de honrar os deuses keméticos em primeiro lugar e seus festivais. Não que seja algo trabalhoso, mas é preciso tempo para isso. 
       Acredito na diversidade, e por isso, se alguém se sentir inclinado a seguir outro caminho sendo kemético ortodoxo (ou ao contrário, se já tem outro caminho e quer se tornar kemético ortodoxo), analise levando em consideração a energia, a coerência, o respeito e o compromisso. E claro, não deixe de se consultar com os deuses! Estando tudo ok, boa jornada.
       E convites para ritos de outras religiões? Mesmos itens.  E o item mais importante: ser você mesmo!
     

2 de ago. de 2013

Dias epagomenais 5 - Nebt-het


Quinto e último dia epagomenal, dia do "Bebê que está em seu ninho", aniversário de Nebt-het, Senhora do Corpo dos Deuses, a Silenciosa.

"Ó Grande Nebt-het, senhora guardiã dos sonhos,
aquela cujo seu pai vê uma filha saudável.

Ó Senhora regente do mundo inconsciente,
revele a todos nós os segredos dos sonhos e da vida
Continue a abençoar a todos aqueles
que te homenageiam

Senhora da Casa e do Templo,
aquela que tece a vida e a contempla
Dama que auxiliou sua irmã Aset
em busca de seu irmão Wesir

Manifeste sua aura protetora mais uma vez
Livrando-nos de todos os males e adversidades do ano
Sagrada seja a Filha cuja o Pai vê saudável"
-Oração para Nebht-het by Caio Figueiredo.




1 de ago. de 2013

Dias epagomenais 4 - Aset

Quarto dia epagomenal, aniversário de Aset, dia de "Aquela que causa terror", Weret-Hekau, Grande senhora da Magia, Rainha de Kemet, Mãe Poderosa!



Para Aset no Dia de seu Nascimento (de Tzejaset, traduzido por Tanakhtsenu)

Eu oro para que todas as minhas declarações sejam puras como Vós.
Eu oro para que meu coração esteja repleto do seu amor, que Te ofereço de volta.
Salve Aset, Grande Mãe, cujo o mundo Visível e Invisível reverenciam!
Salve Aset, Grande Mestre de Heka,matrona tanto do mago quanto do curandeiro.
Ouça as minhas orações,
Impecável jóia no Ventre de Nut,
Rosa do meu ib,
Ouro do meu Ka.


31 de jul. de 2013

Dias epagomenais 3 - Set

Terceiro dia epagomenal, "Ele que é poderoso de coração", aniversário de Set, o Senhor Vermelho, Poderoso da voz de Trovão, Causador de Tempestades, Rei do Deserto, Matador de Apep (e meu Pai).

Heka de proteção pelo caminho de Sha  
(de Tamara Siuda, traduzido por Tanakhtsenu)


"Cuidado, preste atenção isfet!
Aquele que está me observando me protege.
O animal de Set espera para te capturar!"

30 de jul. de 2013

Dias epagomenais 2 - Heru-wer

Hoje é o segundo dia epagomenal, aniversário de Heru-wer, "Ele que é forte de Coração.".

Prece a Heru-wer (traduzida por Tanakhtsenu, de autoria de Temwaenbast)

Louvado sejas, Falcão de plumagem pintada - cobre-me com tuas asas,
Louvor a Vós, Senhor do Terror - afaste os meus inimigos com força,
Louvor a Vós, Heru de Edfu - me abrace como farias com Tua esposa,
Louvado sejas, Quebrador de Ossos - esmague isfet, mantendo-me intacta.


29 de jul. de 2013

Dias epagomenais 1 - Wesir


Hoje, primeiro dia dos epagnomenais, chamado de " O touro puro em seu campo". Aniversário de Wesir, o grande Senhor do Duat. 



Hino a Wesir da Tumba de Kheruef (traduzido por Tanakht)


Louvores a Wesir, beijando a terra para Wennefer, pelo nobre, o prefeito, único amigo do Senhor das Duas Terras, confiado pelo Bom Deus, escriba real, real-chefe arauto, administrador da grande esposa real, Kheruef, vindicado , que diz:
Salve a ti, Senhor da Terra Sagrada,
Com os dois chifres, exaltados na coroa- atef.
Grandemente temido, mestre da eternidade,
Senhor de Ma'at, regozijando-se em sua majestade.
Confortável sobre o grande trono,
O que os deuses elogiam quando vêem.
Para quem aqueles que estão no submundo vem saudar,
E [o povo do Sol ajoelha-se com] testas no chão.
Que o teu coração alegre-se em teu reinado,
Teu reinado assegura o trono para teu filho,
Heru, o teu sucessor na terra,
Depois que ele tomou as Duas Terras em triunfo.
O escriba real, supervisor dos bens, Kheruef, vindicado, diz:
Salve a ti, Wennefer,
Filho de Nut, herdeiro de Geb.
Magnífico e majestoso
Nos corações da humanidade,deuses, os remidos, e os mortos.
Aquele que inspira medo em Busíris,
Poderoso em Abydos.
Deixe-me ir e vir entre os justos
Que estão entre os seguidores de sua Majestade:
E deixe-me banquetear com as oferendas de tua mesa de ofertas
Como é costume de cada dia.

15 de jul. de 2013

30 Dias de Paganismo - Dia 09 - Crenças:Ancestrais


A devoção aos ancestrais é parte da prática kemética ortodoxa. Reverenciar os que vieram antes de nós e já partiram mostra respeito e sintonia com o ciclo natural da vida. Isso não significa que praticamos necromancia, invocações bizarras ou fazemos as múmias se levantarem dos sarcófagos – isso, só nos filmes.

Inicialmente, é preciso compreender alguns conceitos. Devoção não é culto – é homenagem. Nenhum de nós se dirige para seus ancestrais como faria para os deuses. Homenageamos relembrando seus nomes, ofertando água para refrescar seus kau, acendendo incensos/velas, oferecendo algo que era de seu agrado quando viviam. Por exemplo, conheço um kemético cuja bisavó tinha suspiros como seu doce favorito, e essa será sua oferenda para ela.
O contato com os ancestrais está além de ser uma obrigação religiosa, está inserido no cotidiano. Todo mês, o 6º dia do calendário lhes é dedicado. Na prática particular de cada kemético, devemos pelo menos uma vez na semana praticarmos a devoção a eles.
 O Duat é o reino dos que já partiram, mas isso não significa que eles estão lá sem poder vir aqui novamente. Nossos ancestrais podem vir e vem nos visitar, observar, conviver não somente em uma data especial, mas em qualquer momento. Muitos de nós podemos percebe-los de diferentes maneiras, seja vendo, ouvindo ou sentindo suas energias. Alguns de nós tem sonhos com eles.
            Dando mais uma olhada em conceitos, de acordo com fontes como o Livro dos Mortos, seriam 7 (para alguns autores, 9) partes que compõem o ser humano para nós keméticos. Teríamos o espírito(ka), a alma(ba), o nome(ren), a sombra (kaibit), o corpo (kat), o coração (ib), a força vital (sekhem). Cada um destas partes tem um destino após a morte – o ib é pesado no Julgamento e as consequências são recebidas diretamente pelo ka. Caso o coração seja mais pesado que a pena de Ma’at, Ammit devora o coração e o ka se extingue – é a segunda morte. 
Correndo tudo certo, o ka justificado, agora chamado de akh (no plural akhu) ganha o direito de continuar vivendo no reino de Wesir. 

            Esta não é uma relação onde o medo tenha lugar pois um akh é alguém querido por nós. Um pai, uma avó, um vizinho atencioso, a mãe de um amigo, um herói do nosso país, um irmão de nossa fé, um faraó – todos estes são exemplos de akhu. Se alguém não teve uma boa relação com uma pessoa viva, não deve entretanto sentir-se obrigado a honrar esta pessoa. Ser hipócrita é praticar isfet – e como keméticos queremos o mínimo possível de isfet em nossas vidas. Porém, se a pessoa sentir vontade de honrar seu ancestral mesmo assim, é algo pessoal e ninguém tem o direito de julgar esta pessoa por isso.
Akh
            Muitos dos que chegam a Ortodoxia Kemética tem algum tipo de pré-conceito ou resistência a este contato, muitas vezes sem se darem conta. A cultura e a sociedade em que a maioria de nós está inserido faz “cara feia”, menospreza e/ou estabelece uma abordagem de medo e castigos com relação aos mortos. A morte é feia e má, e os que partiram estarão para sempre longe de nós – de acordo com este ponto-de-vista. Felizmente, as coisas não são assim e, para nosso alívio e dos akhu, estar na Ortodoxia Kemética alimenta o ka de todos com paz e boas relações que não se partem, mas se fortalecem.

20 de jun. de 2013

30 dias de paganismo - Dia 08 - Crenças: Perene Eternidade - O Duat

A imortalidade é uma crença estabelecida na ortodoxia kemética. Não, ninguém pensa que é o Highlander ou coisa assim, mas cremos na continuidade da vida.

A vida continua em um lugar. É no Duat, o Reino de Wesir no Oeste.Mas o que é exatamente o Duat?

Quando Wesir morreu, mesmo após ter sido ressuscitado, não foi permitido a ele regressar para cá, no mundo dos vivos. Assim, ele foi para o Oeste, onde tornou-se Rei. O Duat é o além-mundo, onde a vida continua para aqueles que partiram.

O Duat possui várias divisões e habitantes. Por ser vasto, torna-se ainda um local fácil de se perder e até mesmo perigoso para os desavisados. Por este motivo, o Livro dos Mortos traz as orientações e até mesmo o que falar para garantir uma jornada tranquila até o local central do Duat, o Palácio de Wesir.

É lá, no Salão das Duas Verdades que Wesir conduz o julgamento de todos os que morreram:

Depois desta etapa, a pessoa que passa ganha o direito de viver no Duat. Entretanto, a vida no Duat não é algo estático e de adoração a Wesir. Todos tem seu local para viver e uma ocupação.



É no Duat também que o barco de Rá faz sua jornada todas as noites, do oeste de volta para o leste, onde o sol nasce pela manhã. Rá deixa o barco Mandjet, que o transporta pelo céu durante o dia e vai para o barco Mesektet, o barco noturno que o transporta pelo submundo. Rá leva sua luz ao Duat, passa por diversos territórios e terrenos, ilumina o caminho e a morada dos que lá vivem. Antes de partir do Duat, o Barco tem um confronto com Apep. Os deuses que estão no Barco ajudam, mas cabe a Seth, que está na proa do barco, destruir o inimigo. Assim, somente após sua derrota é possível regressar novamente ao mundo dos vivos e o começo de um novo dia.

Tradicionalmente, algumas divindades estão ligadas ao Duat além de Wesir:
 Yinepu (que guia o falecido e participa do julgamento),
 Sokar (deus funerário de Mênfis e patrono dos trabalhadores funerários),
 Nebhet (que junto com Yinepu acompanha o falecido),
 Hethert (como a Senhora do Oeste que recepciona o falecido e venerada em Tebas como deusa funerária),
 Meretseger (a protetora do Vale dos Reis e dos que lá foram sepultados).

Dessa forma, para um kemético o essencial é viver em Ma'at e garantir uma bom resultado no dia do julgamento, para assim poder continuar a vida no Duat.

26 de mai. de 2013

30 dias de Paganismo - Dia 07 - Religião: Ritos de passagem

Os ritos de passagem, por definição, seriam rituais e cerimônias que marcam a transição de uma pessoa para uma nova etapa da vida ou status social. Estão presentes em todas as sociedades, desde os primórdios da nossa existência e sobrevivem, até agora em inúmeras variantes.
Como religião, a Ortodoxia Kemética possui uma estrutura definida a respeito dos seus ritos de passagem. Todos ocorrem por escolha própria dos que tomam parte. A liberdade de escolha é parte importante, e em nenhum momento ninguém é obrigado a participar de nada. Da mesma forma ninguém sofre ato algum tomado à revelia ou seja, ninguém assumirá qualquer voto religioso em nome de outra pessoa, como acontece em outras religiões.
Os principais ritos de passagem da Ortodoxia Kemética, sob meu ponto de vista são:
Entrada no curso de iniciantes – quando a pessoa interessada na ortodoxia kemética decide ingressar no curso para conhecer e vivenciar a religião como aprendiz. Este é um momento que marca a transição da simpatia/afinidade com o Egito para um nível mais profundo de religiosidade e aquisição de conhecimento.
Realização do primeiro Senut – quando o aprendiz compreende e realiza pela primeira vez o ritual de devoção. Este é um momento único, já que é a primeira vez que o contato com a egrégora é efetuado, da realização de expectativas e um passo determinante para a prática religiosa.
Tornar-se remetj – após o fim do curso, quando a pessoa decide permanecer na House of Netjer, ela torna-se remetj, um amigo da fé.Como remetj ela pode tomar parte das celebrações, envolver-se com a comunidade kemética e vivenciar a Ortodoxia Kemética sem um grau de envolvimento mais aprofundado.
Realização do RDP – a qualquer momento, um remetj pode querer passar pelo mais importante dos ritos de passagem da Ortodoxia Kemética. O Rito de Divinação Parental é um grande passo rumo ao autoconhecimento. Através deste rito, se saberá quem compõe sua linhagem divina, quem são o/os/a/as deus/es/as que criaram o ba e o ka desta pessoa. É um momento sagrado e que deve ser muito bem pensado, estar além da mera curiosidade – mais do que conhecer um/a deus/a, é também deixar este/a deus/a saber que a pessoa o/a conhece também.
Tornar-se shemsu – quem passa pelo RDP pode optar a qualquer momento em permanecer como remetj ou então tornar-se shemsu, um devoto. Um/a shemsu (como eu) é alguém que fez um voto sagrado de honrar em primeiro lugar os deuses de sua linhagem e de colocar em primeiro lugar a Ortodoxia Kemética em detrimento de qualquer outra prática religiosa que tenha em sua vida. Além disso, um/a shemsu está de acordo com os princípios da Ortodoxia Kemética e, principalmente, reconhece a Nisut Hekatawy I (AUS) como líder e autoridade da fé kemética ortodoxa.
Nomeação – todo shemsu recebe um nome kemético, dado pela Nisut (AUS) em uma cerimônia. O nome de shemsu é muito mais do que um “nome mágico” ou um pseudônimo. O nome de shemsu é a confirmação do status de shemsu, a lembrança viva do juramento realizado nesta cerimônia, de honrar a linhagem divina de cada um. O nome de shemsu é parte da pessoa e é único – ninguém tem um nome igual a outro.
Tornar-se shemsu-ankh – depois de algum tempo na House of Netjer, um shemsu pode optar em tornar-se shemsu-ankh. Para isso, passará por um ritual específico onde tomará novos votos.
Tornar-se sacerdote W’ab – depois de algum tempo, um shemsu-ankh pode optar em tornar-se um/a sacerdote/isa W’ab. Com isso, passa a ter funções mais complexas além das já assumidas anteriormente e  também mantém um altar público.
Tornar-se Imakhu – depois de algum tempo, um W’ab pode ser elegível para tornar-se um Imakhu, um reverendo/a, que é parte do clero oficial da House of Netjer. Mais tarde, pode passar a ser um/a Kai-Imakhu, um reverendo exaltado, é alguém que assume um outro nível de responsabilidade e, dentre suas funções está a de supervisionar Imakhu.
Apesar de estarem aqui em sequencia, não significa que os ritos podem ser feitos desta forma ou que necessariamente eles tem que ser feitos. Como eu disse e repito, tudo é opcional. Conheço pessoas que são keméticas há tanto tempo quanto eu, são remetj e nem por isso se sentem “menos” que outros. Ninguém é obrigado a nada – mas daqueles que se propõe a seguir adiante, espera-se um alto grau de comprometimento e seriedade. Estar além da superficialidade, compreender a religião, dispor-se a viver em Ma’at, a servir a Netjer e à comunidade, dentre outros fatores. 
Cada um destes ritos é parte da vida daquele que escolhe passar por eles – eu ainda lembro com muito carinho de cada um dos meus passos e sou feliz por isso. Ser uma shemsu me realiza, ser Tanakhtsenu me completa, reverenciar meus Pais me ilumina e me orgulha, acima de tudo, de ser eu mesma.