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6 de ago. de 2013

KRT - Multiple paths

       This round of KRT was about to have multiple spiritual paths while kemetic. When I say "it was" is because I'm late to post. I know, I know, there's another post already scheduled but I'll post anyway.
       The question "But I'm _ _ _ _ _ (insert what you want), can I be kemetic too?" is in top 10 of most asked questions I have seen. Yes, you can but you need to follow certain conditions, in my opinion.
       Well, in this life I believe in energy. And coherence. I know there are kemetic orthodox people who follow monotheistic religions. To me, this is an antagonistic energy shock and a lack of coherence both in epic level - "there's no god except me" monotheistic religions say. What follows next is pretty logical (or ilogical): if there's no possibility to have another god, then it's wrong follow other god(s) and here we have an incompatibility. Some people will say that due to monolatry aspec of kemetic orthodoxy this situation is possible because Netjer would be YWVH/Jesus/Yoshua/Allah with other name. This idea is broke by remembering the monotheistic approach about exclusive cult.
        After that, it comes respect. Not that kind of "social" respect people claim to have, but the respect about paths someone has chosen (or was chosen). I'm a great enthusiast of  Hellas Pantheon and I have a crush on Hermes. Hellenic libations, for instance, are different from kemetic libations. Due to respect, I'll keep them like they are and I won't change anything to kemetic because it's easier. This is respect the tradition,  the gods, the devoutness. 
          Then it comes commitment. To keep yourself loyal to path's principles, to oaths you took, promises you made. You, buddhist and dharma believer, believe it. You, triple law-skyclad-wiccan, celebrate. However, you must understand that depending where you are in House of Netjer, you must honor kemetic gods and their festivals first. You'll need time for that.
         I believe in diversity. Then, if there's someone who feels inclined to follow another path along with kemetic orthodoxy (or the opposite, follow kemetic orthodoxy being from another path), consider energy, coherence, respect and commitment. Of course, consult the gods, for sure! If everything is ok, have a great journey. 
           And about invitations to another religions rites? Same process. But always remember the most important item to consider: be yourself!

MRK - Diferentes Caminhos

        O tema da Mesa Redonda Kemética da vez foi sobre se ter diferentes caminhos espirituais enquanto kemética. Quando digo "foi" é porque estou atrasada com a data, mas mesmo já tendo outro tema agendado para em breve, resolvi embarcar mesmo assim.
        Enfim.
       Essa é uma das dúvidas que está no top 10 das perguntas que eu vejo e que me fazem. "Mas eu sou _ _ _ _ _ (insira o que quiser), posso ser kemético?" Sim, mas é preciso observar uma série de condições, a meu ver.
        Primeiro que nesta vida, eu acredito em energia. E coerência. Sei que existem pessoas praticantes de religiões monoteístas e que também são keméticas ortodoxas. O que, na minha opinião, constitui um choque de energias antagônicas e uma falta de coerência em níveis estratosféricos - afinal, "não haverá deus além de mim", prega o monoteísmo. O resto é bem lógico (ou ilógico), pois se não pode haver nenhum outro deus, logo é errado cultuar outro(s) e por isso haveria incompatibilidade. Alguns argumentarão que por conta da monolatria isso seria possível pois Netjer seria Javé/Jesus/Yoshua/Allah com outro nome. E novamente eu refuto o argumento por conta da condição exclusivista de culto do monoteísmo. 
        Depois, vem o respeito. Não aquele respeito enlatado de resposta pronta, mas o respeito com relação aos caminhos que a pessoa escolheu (ou foi escolhida). Eu mesma sou uma grande entusiasta dos deuses da Hélade, de flerte assumido com Hermes. As libações helênicas são diferentes da libações keméticas. Por respeito, vou mante-las como são e não fazer tudo kemético porque para mim é mais fácil. É respeito às tradições, aos deuses, à religiosidade. 
        E aí, vem o compromisso. O se manter fiel aos princípios do caminho, os votos assumidos, as promessas feitas. Você budista crê no dharma, creia. Você wiccano da lei tríplice que celebra vestido de céu, celebre. Mas entenda que dependendo do seu lugar na House of Netjer, você terá de honrar os deuses keméticos em primeiro lugar e seus festivais. Não que seja algo trabalhoso, mas é preciso tempo para isso. 
       Acredito na diversidade, e por isso, se alguém se sentir inclinado a seguir outro caminho sendo kemético ortodoxo (ou ao contrário, se já tem outro caminho e quer se tornar kemético ortodoxo), analise levando em consideração a energia, a coerência, o respeito e o compromisso. E claro, não deixe de se consultar com os deuses! Estando tudo ok, boa jornada.
       E convites para ritos de outras religiões? Mesmos itens.  E o item mais importante: ser você mesmo!
     

2 de ago. de 2013

Dias epagomenais 5 - Nebt-het


Quinto e último dia epagomenal, dia do "Bebê que está em seu ninho", aniversário de Nebt-het, Senhora do Corpo dos Deuses, a Silenciosa.

"Ó Grande Nebt-het, senhora guardiã dos sonhos,
aquela cujo seu pai vê uma filha saudável.

Ó Senhora regente do mundo inconsciente,
revele a todos nós os segredos dos sonhos e da vida
Continue a abençoar a todos aqueles
que te homenageiam

Senhora da Casa e do Templo,
aquela que tece a vida e a contempla
Dama que auxiliou sua irmã Aset
em busca de seu irmão Wesir

Manifeste sua aura protetora mais uma vez
Livrando-nos de todos os males e adversidades do ano
Sagrada seja a Filha cuja o Pai vê saudável"
-Oração para Nebht-het by Caio Figueiredo.




1 de ago. de 2013

Dias epagomenais 4 - Aset

Quarto dia epagomenal, aniversário de Aset, dia de "Aquela que causa terror", Weret-Hekau, Grande senhora da Magia, Rainha de Kemet, Mãe Poderosa!



Para Aset no Dia de seu Nascimento (de Tzejaset, traduzido por Tanakhtsenu)

Eu oro para que todas as minhas declarações sejam puras como Vós.
Eu oro para que meu coração esteja repleto do seu amor, que Te ofereço de volta.
Salve Aset, Grande Mãe, cujo o mundo Visível e Invisível reverenciam!
Salve Aset, Grande Mestre de Heka,matrona tanto do mago quanto do curandeiro.
Ouça as minhas orações,
Impecável jóia no Ventre de Nut,
Rosa do meu ib,
Ouro do meu Ka.


31 de jul. de 2013

Dias epagomenais 3 - Set

Terceiro dia epagomenal, "Ele que é poderoso de coração", aniversário de Set, o Senhor Vermelho, Poderoso da voz de Trovão, Causador de Tempestades, Rei do Deserto, Matador de Apep (e meu Pai).

Heka de proteção pelo caminho de Sha  
(de Tamara Siuda, traduzido por Tanakhtsenu)


"Cuidado, preste atenção isfet!
Aquele que está me observando me protege.
O animal de Set espera para te capturar!"

30 de jul. de 2013

Dias epagomenais 2 - Heru-wer

Hoje é o segundo dia epagomenal, aniversário de Heru-wer, "Ele que é forte de Coração.".

Prece a Heru-wer (traduzida por Tanakhtsenu, de autoria de Temwaenbast)

Louvado sejas, Falcão de plumagem pintada - cobre-me com tuas asas,
Louvor a Vós, Senhor do Terror - afaste os meus inimigos com força,
Louvor a Vós, Heru de Edfu - me abrace como farias com Tua esposa,
Louvado sejas, Quebrador de Ossos - esmague isfet, mantendo-me intacta.


29 de jul. de 2013

Dias epagomenais 1 - Wesir


Hoje, primeiro dia dos epagnomenais, chamado de " O touro puro em seu campo". Aniversário de Wesir, o grande Senhor do Duat. 



Hino a Wesir da Tumba de Kheruef (traduzido por Tanakht)


Louvores a Wesir, beijando a terra para Wennefer, pelo nobre, o prefeito, único amigo do Senhor das Duas Terras, confiado pelo Bom Deus, escriba real, real-chefe arauto, administrador da grande esposa real, Kheruef, vindicado , que diz:
Salve a ti, Senhor da Terra Sagrada,
Com os dois chifres, exaltados na coroa- atef.
Grandemente temido, mestre da eternidade,
Senhor de Ma'at, regozijando-se em sua majestade.
Confortável sobre o grande trono,
O que os deuses elogiam quando vêem.
Para quem aqueles que estão no submundo vem saudar,
E [o povo do Sol ajoelha-se com] testas no chão.
Que o teu coração alegre-se em teu reinado,
Teu reinado assegura o trono para teu filho,
Heru, o teu sucessor na terra,
Depois que ele tomou as Duas Terras em triunfo.
O escriba real, supervisor dos bens, Kheruef, vindicado, diz:
Salve a ti, Wennefer,
Filho de Nut, herdeiro de Geb.
Magnífico e majestoso
Nos corações da humanidade,deuses, os remidos, e os mortos.
Aquele que inspira medo em Busíris,
Poderoso em Abydos.
Deixe-me ir e vir entre os justos
Que estão entre os seguidores de sua Majestade:
E deixe-me banquetear com as oferendas de tua mesa de ofertas
Como é costume de cada dia.

15 de jul. de 2013

30 Dias de Paganismo - Dia 09 - Crenças:Ancestrais


A devoção aos ancestrais é parte da prática kemética ortodoxa. Reverenciar os que vieram antes de nós e já partiram mostra respeito e sintonia com o ciclo natural da vida. Isso não significa que praticamos necromancia, invocações bizarras ou fazemos as múmias se levantarem dos sarcófagos – isso, só nos filmes.

Inicialmente, é preciso compreender alguns conceitos. Devoção não é culto – é homenagem. Nenhum de nós se dirige para seus ancestrais como faria para os deuses. Homenageamos relembrando seus nomes, ofertando água para refrescar seus kau, acendendo incensos/velas, oferecendo algo que era de seu agrado quando viviam. Por exemplo, conheço um kemético cuja bisavó tinha suspiros como seu doce favorito, e essa será sua oferenda para ela.
O contato com os ancestrais está além de ser uma obrigação religiosa, está inserido no cotidiano. Todo mês, o 6º dia do calendário lhes é dedicado. Na prática particular de cada kemético, devemos pelo menos uma vez na semana praticarmos a devoção a eles.
 O Duat é o reino dos que já partiram, mas isso não significa que eles estão lá sem poder vir aqui novamente. Nossos ancestrais podem vir e vem nos visitar, observar, conviver não somente em uma data especial, mas em qualquer momento. Muitos de nós podemos percebe-los de diferentes maneiras, seja vendo, ouvindo ou sentindo suas energias. Alguns de nós tem sonhos com eles.
            Dando mais uma olhada em conceitos, de acordo com fontes como o Livro dos Mortos, seriam 7 (para alguns autores, 9) partes que compõem o ser humano para nós keméticos. Teríamos o espírito(ka), a alma(ba), o nome(ren), a sombra (kaibit), o corpo (kat), o coração (ib), a força vital (sekhem). Cada um destas partes tem um destino após a morte – o ib é pesado no Julgamento e as consequências são recebidas diretamente pelo ka. Caso o coração seja mais pesado que a pena de Ma’at, Ammit devora o coração e o ka se extingue – é a segunda morte. 
Correndo tudo certo, o ka justificado, agora chamado de akh (no plural akhu) ganha o direito de continuar vivendo no reino de Wesir. 

            Esta não é uma relação onde o medo tenha lugar pois um akh é alguém querido por nós. Um pai, uma avó, um vizinho atencioso, a mãe de um amigo, um herói do nosso país, um irmão de nossa fé, um faraó – todos estes são exemplos de akhu. Se alguém não teve uma boa relação com uma pessoa viva, não deve entretanto sentir-se obrigado a honrar esta pessoa. Ser hipócrita é praticar isfet – e como keméticos queremos o mínimo possível de isfet em nossas vidas. Porém, se a pessoa sentir vontade de honrar seu ancestral mesmo assim, é algo pessoal e ninguém tem o direito de julgar esta pessoa por isso.
Akh
            Muitos dos que chegam a Ortodoxia Kemética tem algum tipo de pré-conceito ou resistência a este contato, muitas vezes sem se darem conta. A cultura e a sociedade em que a maioria de nós está inserido faz “cara feia”, menospreza e/ou estabelece uma abordagem de medo e castigos com relação aos mortos. A morte é feia e má, e os que partiram estarão para sempre longe de nós – de acordo com este ponto-de-vista. Felizmente, as coisas não são assim e, para nosso alívio e dos akhu, estar na Ortodoxia Kemética alimenta o ka de todos com paz e boas relações que não se partem, mas se fortalecem.

20 de jun. de 2013

30 dias de paganismo - Dia 08 - Crenças: Perene Eternidade - O Duat

A imortalidade é uma crença estabelecida na ortodoxia kemética. Não, ninguém pensa que é o Highlander ou coisa assim, mas cremos na continuidade da vida.

A vida continua em um lugar. É no Duat, o Reino de Wesir no Oeste.Mas o que é exatamente o Duat?

Quando Wesir morreu, mesmo após ter sido ressuscitado, não foi permitido a ele regressar para cá, no mundo dos vivos. Assim, ele foi para o Oeste, onde tornou-se Rei. O Duat é o além-mundo, onde a vida continua para aqueles que partiram.

O Duat possui várias divisões e habitantes. Por ser vasto, torna-se ainda um local fácil de se perder e até mesmo perigoso para os desavisados. Por este motivo, o Livro dos Mortos traz as orientações e até mesmo o que falar para garantir uma jornada tranquila até o local central do Duat, o Palácio de Wesir.

É lá, no Salão das Duas Verdades que Wesir conduz o julgamento de todos os que morreram:

Depois desta etapa, a pessoa que passa ganha o direito de viver no Duat. Entretanto, a vida no Duat não é algo estático e de adoração a Wesir. Todos tem seu local para viver e uma ocupação.



É no Duat também que o barco de Rá faz sua jornada todas as noites, do oeste de volta para o leste, onde o sol nasce pela manhã. Rá deixa o barco Mandjet, que o transporta pelo céu durante o dia e vai para o barco Mesektet, o barco noturno que o transporta pelo submundo. Rá leva sua luz ao Duat, passa por diversos territórios e terrenos, ilumina o caminho e a morada dos que lá vivem. Antes de partir do Duat, o Barco tem um confronto com Apep. Os deuses que estão no Barco ajudam, mas cabe a Seth, que está na proa do barco, destruir o inimigo. Assim, somente após sua derrota é possível regressar novamente ao mundo dos vivos e o começo de um novo dia.

Tradicionalmente, algumas divindades estão ligadas ao Duat além de Wesir:
 Yinepu (que guia o falecido e participa do julgamento),
 Sokar (deus funerário de Mênfis e patrono dos trabalhadores funerários),
 Nebhet (que junto com Yinepu acompanha o falecido),
 Hethert (como a Senhora do Oeste que recepciona o falecido e venerada em Tebas como deusa funerária),
 Meretseger (a protetora do Vale dos Reis e dos que lá foram sepultados).

Dessa forma, para um kemético o essencial é viver em Ma'at e garantir uma bom resultado no dia do julgamento, para assim poder continuar a vida no Duat.

26 de mai. de 2013

30 dias de Paganismo - Dia 07 - Religião: Ritos de passagem

Os ritos de passagem, por definição, seriam rituais e cerimônias que marcam a transição de uma pessoa para uma nova etapa da vida ou status social. Estão presentes em todas as sociedades, desde os primórdios da nossa existência e sobrevivem, até agora em inúmeras variantes.
Como religião, a Ortodoxia Kemética possui uma estrutura definida a respeito dos seus ritos de passagem. Todos ocorrem por escolha própria dos que tomam parte. A liberdade de escolha é parte importante, e em nenhum momento ninguém é obrigado a participar de nada. Da mesma forma ninguém sofre ato algum tomado à revelia ou seja, ninguém assumirá qualquer voto religioso em nome de outra pessoa, como acontece em outras religiões.
Os principais ritos de passagem da Ortodoxia Kemética, sob meu ponto de vista são:
Entrada no curso de iniciantes – quando a pessoa interessada na ortodoxia kemética decide ingressar no curso para conhecer e vivenciar a religião como aprendiz. Este é um momento que marca a transição da simpatia/afinidade com o Egito para um nível mais profundo de religiosidade e aquisição de conhecimento.
Realização do primeiro Senut – quando o aprendiz compreende e realiza pela primeira vez o ritual de devoção. Este é um momento único, já que é a primeira vez que o contato com a egrégora é efetuado, da realização de expectativas e um passo determinante para a prática religiosa.
Tornar-se remetj – após o fim do curso, quando a pessoa decide permanecer na House of Netjer, ela torna-se remetj, um amigo da fé.Como remetj ela pode tomar parte das celebrações, envolver-se com a comunidade kemética e vivenciar a Ortodoxia Kemética sem um grau de envolvimento mais aprofundado.
Realização do RDP – a qualquer momento, um remetj pode querer passar pelo mais importante dos ritos de passagem da Ortodoxia Kemética. O Rito de Divinação Parental é um grande passo rumo ao autoconhecimento. Através deste rito, se saberá quem compõe sua linhagem divina, quem são o/os/a/as deus/es/as que criaram o ba e o ka desta pessoa. É um momento sagrado e que deve ser muito bem pensado, estar além da mera curiosidade – mais do que conhecer um/a deus/a, é também deixar este/a deus/a saber que a pessoa o/a conhece também.
Tornar-se shemsu – quem passa pelo RDP pode optar a qualquer momento em permanecer como remetj ou então tornar-se shemsu, um devoto. Um/a shemsu (como eu) é alguém que fez um voto sagrado de honrar em primeiro lugar os deuses de sua linhagem e de colocar em primeiro lugar a Ortodoxia Kemética em detrimento de qualquer outra prática religiosa que tenha em sua vida. Além disso, um/a shemsu está de acordo com os princípios da Ortodoxia Kemética e, principalmente, reconhece a Nisut Hekatawy I (AUS) como líder e autoridade da fé kemética ortodoxa.
Nomeação – todo shemsu recebe um nome kemético, dado pela Nisut (AUS) em uma cerimônia. O nome de shemsu é muito mais do que um “nome mágico” ou um pseudônimo. O nome de shemsu é a confirmação do status de shemsu, a lembrança viva do juramento realizado nesta cerimônia, de honrar a linhagem divina de cada um. O nome de shemsu é parte da pessoa e é único – ninguém tem um nome igual a outro.
Tornar-se shemsu-ankh – depois de algum tempo na House of Netjer, um shemsu pode optar em tornar-se shemsu-ankh. Para isso, passará por um ritual específico onde tomará novos votos.
Tornar-se sacerdote W’ab – depois de algum tempo, um shemsu-ankh pode optar em tornar-se um/a sacerdote/isa W’ab. Com isso, passa a ter funções mais complexas além das já assumidas anteriormente e  também mantém um altar público.
Tornar-se Imakhu – depois de algum tempo, um W’ab pode ser elegível para tornar-se um Imakhu, um reverendo/a, que é parte do clero oficial da House of Netjer. Mais tarde, pode passar a ser um/a Kai-Imakhu, um reverendo exaltado, é alguém que assume um outro nível de responsabilidade e, dentre suas funções está a de supervisionar Imakhu.
Apesar de estarem aqui em sequencia, não significa que os ritos podem ser feitos desta forma ou que necessariamente eles tem que ser feitos. Como eu disse e repito, tudo é opcional. Conheço pessoas que são keméticas há tanto tempo quanto eu, são remetj e nem por isso se sentem “menos” que outros. Ninguém é obrigado a nada – mas daqueles que se propõe a seguir adiante, espera-se um alto grau de comprometimento e seriedade. Estar além da superficialidade, compreender a religião, dispor-se a viver em Ma’at, a servir a Netjer e à comunidade, dentre outros fatores. 
Cada um destes ritos é parte da vida daquele que escolhe passar por eles – eu ainda lembro com muito carinho de cada um dos meus passos e sou feliz por isso. Ser uma shemsu me realiza, ser Tanakhtsenu me completa, reverenciar meus Pais me ilumina e me orgulha, acima de tudo, de ser eu mesma.

10 de abr. de 2013

30 dias de paganismo: Dia 06 - Ma'at

       Eu já falei sobre Ma'at lá e aproveito para colocar (e ampliar) aqui:

     Ma’at é o termo mais importante dentro da filosofia e religião kemética. Em egípcio antigo, Ma'at significa literalmente "verdade". Ma’at era a ordem, o equilíbrio, a verdade e justiça personificadas; era harmonia – como as coisas deveriam ser. Sem Ma’at, o universo retornaria ao caos já que graças a ela, ele funciona de um modo racional e ordenado.
    Ao mesmo tempo, ela também é uma Netjeret (deusa) representada com uma pena de avestruz na cabeça. Esta é a pena colocada em um dos lados da balança usada para a pesagem do coração do morto no julgamento além-vida.
    Concomitantemente – e o que talvez seja o mais complicado de entender – Ma’at não é boa ou má: Ma’at simplesmente é.
    Ela está muito além da ética, é completamente neutra. É por isso que durante o julgamento no além, Ma’at é representada pela balança que pesa o coração do falecido: ela não escolhe partes, não tem favoritos, simplesmente pesa o que é depositado nos pratos.
    Ma’at é um processo que se põe em marcha a partir de ações. Processo que reage ao atuar humano e move as peças de modo que o equilíbro seja reestabelecido sempre. Toda ação tem uma reação, e ela é consequência de Ma’at.
    Os que praticam a religião kemética devem viver em e por Ma’at, o que representa um grande desafio já que implica sermos responsáveis pelas ações que realizamos diariamente o tempo todo, em todas as esferas de nossa existência.
     Se deixamos de praticar Ma'at, fazemos isfet. Com isso, desequilibramos o universo, tanto em nível pessoal quanto universal. Quanto mais estamos em Ma'at, melhor para nós, já que no final,é isso que vai ajudar a determinar nosso destino nesta vida e na próxima.
       Para ficar mais fácil de entender,temos que pensar em termos de quantidade e de custo-benefício. Por exemplo, o que é mais interessante para nós mesmos, carregar um saco de pétalas de rosas ou um saco de pedras pontiagudas? Pessoalmente, eu prefiro as rosas, embora às vezes algumas pedras apareçam e quando isso acontece eu tento me livrar da pedras, se me dou conta. 
      Nem tudo é possível de notar, e por isso continuo tentando, mesmo com algumas pedras disfarçadas, levar a vida mantendo mais rosas do que pedras nas mãos.
     

13 de mar. de 2013

30 dias de paganismo – Dia 05: Cosmogonia

   Uma das principais dificuldades para quem começa a estudar sobre mitologia egípcia é justamente compreender a cosmogonia.Afinal, não há uma linearidade como a que vemos, por exemplo, nos mitos gregos. As fontes são diversas, as divindades mudam e os próprios conceitos de criação, também.
    As principais cosmogonias que encontramos referência são as das cidades de Heliópolis, Tebas, Hermópolis e Mênfis.Todas diferem entre si e ao mesmo tempo possuem elementos em comum. Um dos pontos em comum é que a criação tem início nas águas de Nun, o oceano primordial. Daí surge o Netjeru que inicia o processo de criação com dois novos elementos (terra e céu por exemplo) das maneiras mais variadas possíveis. Cada um dos novos elementos criados é também um Netjeru ou Netjeret, que juntos criam mais dois novos Netjeru/elementos e assim sucessivamente até chegarmos aos humanos. Em alguns mitos, Ptah criou os humanos, já em outros foi Khnum, em outros foi Ra.
    O que é preciso ter em mente, para não pirar de vez quando se começa a pensar nas diferentes cosmogonias é que elas variam em função de geografia e período de tempo. A história nos mostra que por momentos elas até foram contemporâneas umas das outras. Porém, é preciso diferenciar a maneira como encaramos isso hoje, com a visão do todo, com a da época do Egito Antigo, onde existiam restrições espaço-temporais.
     Atualmente abrimos um livro de história e lá está toda a linha de tempo do Egito desde o início até a Primavera Árabe de 2011 com nomes, datas, locais e fatos – mas isso não ocorria com os antigos da mesma forma. Este apanhado de informações que os livros nos mostram estava sendo vivido por eles na época ou então nem tinha acontecido ainda. E outra: as diferenças tecnológicas de acesso à informação nem se comparam.
   Como eu disse, houve momentos em que diferentes cosmogonias foram contemporâneas. Mas, diferentemente do que se possa pensar em um primeiro instante, haja vista tantos conflitos religiosos, os egípcios as encaravam de um modo bem peculiar. Para eles, todas as cosmogonias são verdadeiras. Os conflitos religiosos que temos registro em sua maioria tiveram como pano de fundo transições políticas (como o caso das tranformações de estátuas de Seth em Amun, por exemplo).
   Então é isso mesmo: todas as cosmogonias são verdadeiras – e é assim que encaramos hoje. A cosmogonia dentro da ortodoxia kemética trabalha com lógica polivalente e sem henoteísmo – ou seja, todos os pontos de vista são válidos e não temos uma divindade superior às outras. Por isso, tanto o ciclo de criação de Ptah quanto de Ra, por exemplo, embora originados de locais e épocas diferentes são aceitos.
  Mente aberta, para ser kemético ortodoxo, como se vê, é praticamente obrigatório. Se por algum motivo alguém não assimila a lógica polivalente, fica muito difícil se sintonizar e se achar, principalmente nesta parte mais ampla de cosmogonia. Sabem o lema de magia do Caos, “nada é verdadeiro, tudo é permitido” ? Para começar com cosmogonia, é mais ou menos por aí...

26 de fev. de 2013

Relações perigosas

Em um debate com alguns de meus camaradas reconstrucionistas, falávamos sobre as relações entre mães e filhos. Alguns colocaram que para muitos, aqui no Brasil, "sair do armário pagão" via de regra causa um tumulto - nem sempre com a mãe, mas com a família - em algum nível. Alguns são zoados, outros perseguidos, outros ainda sofrem com punições, chantagens e por aí vai.

Sou uma dessas pessoas de exceções, e como meu ambiente familiar sempre foi muito aberto a variedade religiosa, não tive nenhum problema quando de minhas excursões religiosas no geral. Mas conheci (e conheço) pessoas que viviam escondendo os altares, em batalhas sem fim com as famílias, exorcizados, humilhados... Só que essa é outra prosa.

Enfim, falávamos,os camaradas e eu sobre a questão de mães e filhos. De como esta relação é sagrada e forte, acima das eventuais situações que a vida pode trazer. Afinal, mãe é mãe. Os mitos de Aset e Heru-sa-Aset mostram bem isso, de tudo que ela faz por ele, os sacrifícios que ela enfrenta por seu filho amado. Aset é uma mãe com verdadeiro amor e dedicação, e mesmo quando Heru-sa-Aset em meio a um acesso de raiva decepa sua cabeça, a relação deles não é abalada.
Por outro lado, Ra proíbe Nut de ter filhos em outro mito. Ela sofre muito por conta de sua decisão, afinal já está grávida e não pode dar a luz. Suas dores e tristeza são indescritíveis, mas no final Djehuty dá um jeito e os filhos nascem. Com Hethert, Ra também se prevalece de sua autoridade e a proíbe de envolver-se com Heru-wer - o que acarreta sua fuga e traz coisas ruins para Kemet como consequencia
Ninguém pensa que o amor de Ra por sua filhas é questionável, mesmo com suas atitudes. Todos entendem que ele talvez errou ou que tudo eram ações de um plano maior. Na vida, como no mito, se um pai tem esse tipo de atitude com suas filhas ele está sendo zeloso ou tirano, mas cumprindo um papel de proteção.
Porém, atitudes desta natureza de uma mãe são inaceitáveis tanto cultural quanto socialmente. Ou ainda, se um filho não se dá bem com sua mãe, é quase um crime capital.

Quem disse?!

Nem todas as mães amam seus filhos, nem todas os querem ou se importam com eles. Nem toda mulher que é mãe queria se-lo ou então se arrependeu de ter sido. Nem todas tem paciência, ou amor incondicional não. Isso é muito mais comum do que se pensa. Aí quando uma dessas mulheres faz algo de ruim para seu filho, é um escândalo duplo - por ela, uma "mãe desnaturada" e pelo filho. Afinal, como uma mãe pode agir assim? Como ela não vai ser gentil, amorosa e dedicada a  uma vida que ela ajudou a gerar?

Simples: não sendo. 

É preciso lembrar que está se falando de relações interpessoais com pessoas não escolhidas por vontade própria. Elas acontecem e como qualquer outra relação, tem um percentual de dar certo ou não. N Fatores contribuem para que a coisa flua ou role ladeira abaixo. Um tanto outro par de vezes as pessoas não percebem o que está acontecendo e mergulham num ciclo de culpa e raiva destrutivos. 
Amor a prova de balas não existe, é utópico. As relações são todas perigosas. 

Como reconstrucionista, não posso me furtar a repensar realidades. Então, se alguém tem um tipo de relação com sua mãe ou com seu filho fora do padrão esperado, não tenho que acusar ou julgar. Se alguém não mantém uma relação harmoniosa com sua mãe, ou despreza seu filho, essa pessoa tem que também ter a legitimidade de expressar sua religiosidade sem terrorismos ou intervenções para salvar relacionamento. 
Como kemética, entendo que preciso de compreensão para entender como se processa essa realidade diferenciada e avaliar se as atitudes desta relação não são isfet. Para isso, muita conversa, leitura e contato com os Netjeru não para consertar nada, mas para tentar ajudar a pessoa em sua jornada.  




27 de jan. de 2013

Horrores

O mundo inteiro - literalmente - acordou com a horrível notícia do incêndio em Santa Maria. Mortes horrendas, mais de 200 pessoas que estavam em uma casa noturna. Eles faziam aquilo que a gurizada faz em noite de sábado, sair pra curtir a balada.

Se algum deles era pecador, fornicador, ímpio, invocador de espíritos, seguidor do diabo, tinha karma de outra vida ou qualquer bestagem fatalista? Desconheço, assim como a grande maioria das pessoas que estão a falar sobre isso no dia de hoje e nos dias que seguirão.

"Todos eles estavam em isfet?". Não. Em isfet, os donos do local ao negligenciar a segurança, ao fazer pouco caso das providências que devem ser tomadas para garantir que em caso de emergência o dano seja o  menor possível. Em isfet, a pessoa que usou um rojão ou o que foi durante o show sem se informar se isso era permitido e seguro. Em isfet, o segurança que dificultou o acesso à saída das pessoas. 

Notem que isfet está em momentos e atos cometidos, não em uma dimensão fixa permanente. Não nascemos em isfet, provocamos isfet - e assim como essas pessoas, nas situações que eu apontei cometeram isfet, elas também trouxeram ma'at. Não, não quero eximir responsabilidades, apenas estou mostrando um pouco do outro lado também.

É claro que um bom ato não significa necessariamente que se corrigiu um ato mau pois tudo é diferente. Nossos atos em isfet são tão lembrados como nossos atos em ma'at no dia do Julgamento.Entretanto, os responsáveis por toda essa noite de horror, não terão seus kau refrescados e puros. Seus corações estarão pesados por terem ido contra várias das purificações de Ma'at. A reparação será feita, neste ou em qualquer outro mundo.

Não, não é justo e certo que tantos tenham partido para o Oeste assim tão cedo e de um jeito tão horrendo.Mas deus algum, deste ou de outro panteão tem algo a ver com isso. 
Por essa razão, meus sentimentos e preces para que a jornada ao Duat dos que partiram seja tranquila. Que Yinepu e Nebthet os conduzam e guardem.Um milhão de vezes eles tenham seus kau refrescados durante a jornada.
Que Sekhmet e Djehuty estejam atentos aos profissionais da saúde que estão trabalhando para cuidar dos feridos.
E que Ma'at cure as feridas e a dor das famílias que perderam seus queridos.Que seus kau possam ser refrescados e seus ib sejam confortados, hoje e sempre.

19 de jan. de 2013

Django, com d mudo

Fui assistir a Django Livre mais cedo. Sou fã do Tarantino há algum tempo - ainda lembro da sensação de choque e espanto depois de assistir Pulp Fiction, lá numa tarde perdida dos anos 90. Acabei gostando muito do estilo dele, uma coisa diferente (e com muito sangue) e procurei sempre acompanhar os seus filmes. Ah blablabla de críticos e pessoas especializadas no assunto a parte que todo mundo já sabe e eu também concordo, tem algo a mais que me faz gostar do Tarantino.

O que eu gosto nele mesmo é a capacidade que ele possui de criar mitologias completas (e vou voltar neste assunto outra hora). 

Kill Bill, por exemplo, é a saga de uma mulher que está longe de ser modelo de bondade, mas sim uma assassina que tenta mudar sua vida por conta de uma gravidez inesperada. Bom, ela sofre um revés na sua tentativa de viver uma vida feijão com arroz (eu antigo bando tenta matá-la), acaba em coma, sobrevive e aí sai em busca da reparação.  No processo ela se encontra com um mestre de armas, relembra lições de um antigo mentor num momento de vida e morte, enfrenta e mata seus adversários e por fim, sai para viver o resto de sua vida com sua filha. 

Mas em Django Livre, é diferente. Django é um Siegfried negão, autêntico e de bom coração.Ele sai da vida sem perspectiva e horrenda. Um mentor o treina, instrui e lhe mostra possibilidades. Django se permite experimentar e ir além, fazer o que for preciso, ser o que mais lhe é odioso em nome de seu objetivo.  Ele aposta, perde, mas ressurge ainda mais poderoso e cumpre o que se propôs. Tudo isso sendo ele mesmo!

Impossível não pensar em tudo que já li por aí sobre os deuses, heróis e suas jornadas épicas. Impossível não ver um pouco de Aset na Noiva de Kill Bill, um toque de Set no Django, ou Djehuty como o Dr. King Schultz. A lista de relações é imensa se for parar para pensar. 

Eu já tenho um tempo de HoN, e mais um tempo de "vida pagã". Nesse percurso, (vi) vejo de tudo um pouco. Tem os que piram e veem os deuses em tudo o tempo todo, tipo o povo que vê Jesus numa torrada. Tem também os que desenvolvem uma intimidade do tipo que leva Bast para a pet shop, praticamente. Outros, porém, parecem ficar numa eterna prisão de pesquisa - onde muitos, muitos se frustram pela falta de contato espiritual.

Uma das coisas que eu sempre falo, quando as pessoas começam o curso de iniciantes é para as pessoas conhecerem e se deixar conhecer. Manter a mente aberta. Aí passa algum tempo e muitos falam que não conseguem compreender um aspecto ou o papel  de um Netjeru. Outros reclamam que se sentem desconectados, que tudo é muito distante. Abrir a mente é para isso, para ajudar no contato, enriquecer a vivência, favorecer a parte prática - quando? Sempre, até no filme do Tarantino.