A devoção aos ancestrais é parte
da prática kemética ortodoxa. Reverenciar os que vieram antes de nós e já
partiram mostra respeito e sintonia com o ciclo natural da vida. Isso não
significa que praticamos necromancia, invocações bizarras ou fazemos as múmias
se levantarem dos sarcófagos – isso, só nos filmes.
Inicialmente, é preciso compreender
alguns conceitos. Devoção não é culto – é homenagem. Nenhum de nós se dirige
para seus ancestrais como faria para os deuses. Homenageamos relembrando seus
nomes, ofertando água para refrescar seus kau, acendendo incensos/velas,
oferecendo algo que era de seu agrado quando viviam. Por exemplo, conheço um
kemético cuja bisavó tinha suspiros como seu doce favorito, e essa será sua
oferenda para ela.
O contato com os ancestrais está
além de ser uma obrigação religiosa, está inserido no cotidiano. Todo mês, o 6º
dia do calendário lhes é dedicado. Na prática particular de cada kemético,
devemos pelo menos uma vez na semana praticarmos a devoção a eles.
O Duat é o reino dos que já partiram, mas isso
não significa que eles estão lá sem poder vir aqui novamente. Nossos ancestrais
podem vir e vem nos visitar, observar, conviver não somente em uma data
especial, mas em qualquer momento. Muitos de nós podemos percebe-los de
diferentes maneiras, seja vendo, ouvindo ou sentindo suas energias. Alguns de
nós tem sonhos com eles.
Dando mais
uma olhada em conceitos, de acordo com fontes como o Livro dos Mortos, seriam 7
(para alguns autores, 9) partes que compõem o ser humano para nós keméticos.
Teríamos o espírito(ka), a alma(ba), o nome(ren), a sombra (kaibit), o corpo
(kat), o coração (ib), a força vital (sekhem). Cada um destas partes tem um
destino após a morte – o ib é pesado no Julgamento e as consequências são recebidas
diretamente pelo ka. Caso o coração seja mais pesado que a pena de Ma’at, Ammit
devora o coração e o ka se extingue – é a segunda morte.
Correndo tudo certo, o
ka justificado, agora chamado de akh (no
plural akhu) ganha o direito de
continuar vivendo no reino de Wesir.
Esta não é
uma relação onde o medo tenha lugar pois um akh
é alguém querido por nós. Um pai, uma avó, um vizinho atencioso, a mãe de um
amigo, um herói do nosso país, um irmão de nossa fé, um faraó – todos estes são
exemplos de akhu. Se alguém não teve uma boa relação com uma pessoa viva, não
deve entretanto sentir-se obrigado a honrar esta pessoa. Ser hipócrita é
praticar isfet – e como keméticos queremos o mínimo possível de isfet em nossas
vidas. Porém, se a pessoa sentir vontade de honrar seu ancestral mesmo assim, é
algo pessoal e ninguém tem o direito de julgar esta pessoa por isso.
Akh |
Muitos dos
que chegam a Ortodoxia Kemética tem algum tipo de pré-conceito ou resistência a
este contato, muitas vezes sem se darem conta. A cultura e a sociedade em que a
maioria de nós está inserido faz “cara feia”, menospreza e/ou estabelece uma
abordagem de medo e castigos com relação aos mortos. A morte é feia e má, e os
que partiram estarão para sempre longe de nós – de acordo com este ponto-de-vista.
Felizmente, as coisas não são assim e, para nosso alívio e dos akhu, estar na
Ortodoxia Kemética alimenta o ka de todos com paz e boas relações que não se
partem, mas se fortalecem.
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