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24 de fev. de 2016

Remember, remember...

O interessante de se ter vizinhos é estar aberto ao contato com eles - sim, isso é extremamente óbvio, mas na realidade, não é bem assim.
Foi espiando por entre as árvores do bosque, que catei a informação de que hoje é o Dia da Memória Pagã. A data serve para lembrar de todos os pagãos* de outras eras.

* pra facilitar a vida, o uso da palavra pagão aqui é no sentido daqueles que se voltam para religiões politeístas não abrâamicas e com ligação com à natureza. Eu já sei o que "é" paganismo, o que "não é", o que "poderia ser" etc etc etc que consta nos diversos alfarrábios, obrigada. 

Muitas destas pessoas deixaram heranças preciosas em forma de escritos que chegam às nossas mãos hoje. Outras, deixaram atos, figuras, tendências que ainda são possíveis de serem acessadas por nós. Por tudo isso sou grata - e a maioria de nós que está no circuito deveria ser também -, afinal o que seríamos de nós hoje sem esse povo do ontem? 

Não, não acordei e bebi o elixir da obviedade. É que gosto de pensar nestas outras pessoas vez por outra. Não estou falando dos que morreram em priscas eras ou grandes nomes da história. Sim, estes são importantes, mas meu pensamento vai para quem ainda está aqui hoje.

Na Ortodoxia Kemética temos os sebau: quem ensina, aqueles com quem aprendemos. Isso não é titulação só para quem é super pica das galáxias dos estudos infinitos e títulos motherfucker.
(e na maior parte das vezes não passa disso mesmo, só falam asneiras e só vão se queimando na fogueira das vaidades, mas isso é outra prosa)
Sebau são pessoas com quem aprendemos e tem nosso respeito e admiração. 
São pessoas que ao passarem seus ensinamentos, muitas vezes sem nem perceber que estão nos ensinando algo, tocam nossas almas, nosso intelecto, a gente como um todo.

Aí muito digno termos uma data como hoje. Muito digno lembrarmos de pagãos fodásticos, pessoas que morreram defendendo suas causas - porque isso é fodástico mesmo. Mas aqui, e no palácio minha homenagem vai para aqueles que estão por aí, e que chegaram um pouco antes que eu, seja no mundo ou nas suas fés.

Hoje eu lembro da Nisut (AUS), de conversas ao sol com pessoal da celtaiada, das cervejas e das risadas com pessoal do axé, das noites gastas em chats com povo da House of Netjer, dos festivais celebrados com o viking, das tantas prosas com os helenos, do bruxedo que dança na minha volta ao longo dos anos, dos tantos e tantos nomes de internet que falaram (e falam) em listas, grupos, sites comunidades, blogs - e que em alguns casos tive até o prazer de conhecer. 

Oficina do Gif
Bom, de acordo com o protocolo, dedica-se uma vela para estas pessoas.  Adiciono abraços, e um dua! o//



9 de fev. de 2016

Sabática

Tirei um ano sabático. Quase, se formos contar exatamente a data da última postagem.
Aquele papo de que milhares de coisas aconteceram e blá blá blá? Sim, lógico - e muito.

Mas a real, visceral verdade? Enchi do mais do mesmo e resolvi parar, respirar e deixar a coisa solta.

Um belo dia, hoje, terça de carnaval, bateu a vontade de escrever de novo.

Tem um lance que Set é uma divindade ligada ao mar. Pode ser que seja esse aspecto de inconstância que esteja se refletindo em mim. 
Então, me recolhi no repuxo e agora voltei, toda onda, dourada e espumas flutuantes. 

1 de mar. de 2015

Sobre Êxodo: Deuses (?) e Reis - parte II

    (prosseguindo)
          O hebreu mais famoso do filme, Moisés, é um misto de vários personagens do Cristian Bale. Uma leitura rápida dá pra ver que ele grita enlouquecido e fanático como o John Connors, usa seus conhecimentos de luta (e a roupa preta) como o Batman, delira como o personagem de O Operário. É um Moisés meio doido, meio inconformado com sua vida, mas que a atuação do Bale não convence o suficiente. Outro ponto é que lá pelo meio do filme fica-se sabendo de onde ele surgiu porque a apresentação dos personagens simplesmente não existe. Eles vão surgindo na tela enquanto a gente assiste e é isso aí, coma mais pipoca e vá tentando descobrir quem é quem.

     Bom, visualmente, o filme não deixa nada a desejar. Os efeitos são ótimos, e a parte das pragas ficou ótima. Os cenários internos e externos, idem. A travessia do Mar Vermelho não decepciona nos efeitos, embora seja um misto de fenômeno natural com ação divina – e pra mim foi uma boa ideia. Muita licença poética, evidentemente, para montar a cena e a derrocada dos egípcios, mas o resultado ficou bem legal.


    O título do filme fala de Deuses. Curiosamente, na sociedade politeísta egípcia do filme aparece... UMA sacerdotisa de Sekhmet. Não se veem muitas estátuas ou objetos sagrados, as pessoas não falam nos deuses, não há referência alguma da vida religiosa das pessoas, quer da corte ou não. Em nada. 
     Lá pelas tantas surge um adivinho fazendo uma participação, mas nada além disso. A figura religiosa é só da sacerdotisa que conduz oferendas e adivinhações, inclusive dentro do Rio Nilo. Para Sekhmet, não para nenhuma divindade que tenha a ver com as águas. Para se ter ideia, nem Yinepu (Anúbis) apareceu, e olha que qualquer coisa que mostre Egito mostra Ele, hein. Deuses onde e para quê?!  
Imagem autoexplicativa.
     Bom, como pessoa que curte uma boa história e cinema, digo que esse filme foi um dos maiores desperdícios de dinheiro (e tempo) da história. Interpretações discutíveis em um elenco fraquíssimo e que ainda tem o agravante de não colocar NENHUMA pessoa de pele mais escura em papéis de comando ou destaque. Os mais escuros, como sempre, são subalternos, escravos, aquela coisa toda. Vejam que estou falando de pele mais escura, não necessariamente negros, porque estes, nem vou entrar no mérito. Enfim, se você espera ver um filme daquele Ridley Scott de Gladiador, Alien e Blade Runner, salve seu tempo e deixe passar o filme na TV aberta.
     Agora, falando como kemética ortodoxa, a palavra é vergonha. Custava um pouquinho de pesquisa? Olha, nem precisava muito, só assim, uma olhadinha no Google já ajudava. Ler um livro, podia até ser um de escola, falando sobre os diferentes momentos da história de Kemet faria uma diferença absurda.  Que tal inventar um outro rei qualquer sem caracterização com um ator oriental mas deixar o Ramsés II(AUS) quieto? Uma abaixadinha no coitadismo hebraico, de leve (bem de leve mesmo), que tal?

     Eu entendo que é um filme de ficção e não um documentário, mas só estas quatro coisas já deixariam o filme mais passável e com um fator de rejeição menor – vide o bafafá em vários lugares que proibiram a execução do filme. Temos tantos recursos hoje em dia que é inconcebível apresentar um show de horrores como esse filme e ainda colocar seu nome nele, senhor Ridley Scott. Estudar o passado para compreender melhor o presente e nós mesmos não é supérfluo, mas essencial. Falar de deuses e reis, com propriedade, é reverencia-los e exalta-los em cada um de nós. Infelizmente, seu filme bem longe desse caminho. 
     A mim, resta respirar fundo, praguejar o seu nome, Ridley Scott, e rir, quando me perguntarem pela enésima vez o que Ramsés II (AUS) teve a ver com a construção das pirâmides.

25 de fev. de 2015

Sobre Êxodo: Deuses (?) e Reis.

     Depois de muito resistir, fui assistir a “Exôdo: Deuses e Reis”. Minha resistência se deu porque este é um momento bíblico que sempre gera muita polêmica (e filmes: os 10 mandamentos e O Príncipe do Egito para citar alguns). Mas, a maior de todas as motivações que sempre acaba amolecendo minhas barreiras foi “como vou ter uma opinião se eu não assistir?” Assim, lá fui eu, bem acompanhada de uma amiga – que coincidentemente é historiadora – rumo a algumas horas de experiência cinematográfica.
     Eu sei, eu sei, você que está me lendo está se roendo, mas acredite, eu mesma estou me roendo para ver o que eu escrevo. Notadamente, por eu ser setiana, esperam-se algumas vociferadas – ok, um monte delas. Sim, elas vem, mas por enquanto estou tentando (e muito, acredite) não transformar este texto numa avalanche de letras maiúsculas e imprecações ao Ridley Scott e Cia ltda.  E lá vamos nós.

     Falar do erro étnico de colocar um ator com traços puxando para orientais para interpretar Ramsés, o filho de Seti I (AUS) interpretado por John Turturro (sério, é o mesmo John Turturro malucaço de outros papéis) são 2 erros em uma só frase.
     Ramsés II (AUS) era ruivo, orgulhosamente ruivo e teve uma vida longa e próspera em Kemet - e clique aqui, se quiser vê-lo como realmente era. Ele foi um dos maiores governantes que já existiram e sua época é simplesmente uma era de ouro incomparável na história de Kemet. Caracterizá-lo como mimadinho do papai, indolente, incapaz, sujeito a manipulações políticas, atos de barbárie pode até ser uma licença poética.
     É uma licença complexa, é verdade, já que tudo que ficamos sabendo sobre Ramsés II (AUS) nos diz que ele era o oposto de tudo isso. Porém o que chegou até nós foi tudo escrito pelos egípcios e bom, ninguém vai fazer propaganda negativa sobre seu rei, não é? Tá, eu sei, a não ser Akhenaton, mas aí é outra situação. Indo mais além, colocar Ramsés II (AUS) na época que os hebreus estavam escravizados construindo pirâmides é como afirmar que a Inconfidência Mineira e a construção de Brasília aconteciam simultaneamente.  Ou que o rei Leônidas de Esparta jogava God of War no seu Playstation: um abismo histórico.
      Aí vamos ao figurino. Ouro e joias lindíssimas de ficar babando? Presente. Roupas de linho? Presente. Moisés (e não só ele, detalhe) de armadura preta dentro de fora do campo de batalha? Presente. Isso mesmo, armadura preta no Egito. 
À esquerda, armadura do rei, tipicamente egípcia.
 À direita, a armadura escura de Moisés.

Inclusive  esta armadura (toda ou em parte) é usada dentro do palácio, no meio de todo mundo usando suas túnicas de linho. Sim, eu sei que ele no filme é um comandante militar, mas ele também é o filho adotivo do rei. Ele não é um soldado tirando guarda, ele é um príncipe. Príncipe, destes que tem joia, coroa, tecidos finos, anéis, guarda pessoal, aposentos enormes, luxo e poder, sabe? Ele não é um jagunço perambulando armado o tempo todo do lado do seu coronel, pessoa que montou o figurino do filme! Por favor, pesquise, pessoa que montou o figurino!

     Ok, pausa. Respiração.
    
    Prosseguindo, uma pergunta. O que a Sigourney Weaver foi fazer lá? Se tivesse um alien, eu entenderia, mas no mais ela só apareceu para ostentar ouro e fazer fofoca com o rei egípcio-oriental-careca-mimadinho (porque me recuso a chamar de Ramsés aquela criatura, é uma ofensa ao verdadeiro).


    Falando sobre os hebreus, a caracterização de Javé, seu Deus, foi perfeita. Estou falando sério aqui, de verdade. Já li muito sobre o cristianismo e religiões abrâmicas, e nunca, nunca tinha visto ninguém ter um insight que captasse tão bem a essência do Senhor dos Exércitos: Javé é uma criança! 



     Moisés o questiona, Javé responde “porque eu quero”. Moisés diz que precisa de tempo para que as coisas aconteçam, Javé responde “Não, agora vamos fazer as coisas do meu jeito porque não quero esperar”. Moisés argumenta que as pragas prejudicam a todos, não só os egípcios, Javé responde que é assim que ele vai fazer e pronto. Ora, quem se comporta assim não são as crianças? Nada de homem de idade, cabelos brancos e barba longa com voz de trovão.  O que temos é um menino intempestivo de olhos intensos, magrinho e aparentando não mais que 10 anos. Se você ler o Antigo Testamento fica fácil, muito mais fácil de compreender a série de exigências, leis, situações e afins que Javé faz o tempo todo se pensarmos nele como um menino. 

(continua)

27 de ago. de 2014

Awen para quem é de Awen

Eu gosto de pessoas, de estar com elas. Nasci curiosa e cosmopolita. Nunca fui dessas crianças que só querem ficar com os pais, estranham os outros, essas coisas. Pelo contrário, eram meus pais que tinham que falar para eu voltar para casa, porque se dependesse de mim... Mas essa é outra prosa.

Uma das coisas que eu faço, já de longa data é ter contato com pessoas de diferentes estilos, opiniões, idades, nacionalidades, sexualidades... e religiões. Eu visito, eu converso, eu pergunto, eu vou lá e vejo, tiro minhas próprias conclusões, extraio uma vivência que cimenta minha opinião. É meu momento antropológa. 
Ao longo dos anos venho conhecendo e armazenando vivências (e amigos!) dos mais variados.

E o que isso tudo tem a ver com Egito e minhas práticas? Tudo. Conhecer os "vizinhos", estar aberto a outras culturas, sempre fez parte do Egito. Como posso eu não me dispor a fazer o mesmo?

Agora, neste ano de Aset, a Senhora da Magia, senti que era hora de falar. Decidido, feito. 

Ah sim, tudo que eu falar, não só neste, mas em outros posts são minhas impressões e, se alguém se ofender, dois trabalhos: se ofender e se desofender.. 

Começo falando sobre uma experiência legal demais que tive com o povo que se dedica a espiritualidade celta aqui na terra Brasilis.Em 2012 tive o prazer e o privilégio de ser convidada para o IIIº EBDRC - Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta, que rolou aqui no RS.

Lá pude ter contato com uma galera dos mais remotos cantos do Brasil - até gente do Acre eu conheci - e que, das mais variadas maneiras dedica sua fé aos deuses e deusas das terras das brumas. Uma das coisas que eu mais gostei foi saber que todos eles, em graus diferentes, honram a terra. A terra é essencial, importante, única, e a conexão com a natureza é inerente a suas práticas. Neste processo, muitos acabam por descobrir suas raízes, sua ancestralidade e a conhecer  e interagir com tudo que faz parte do lugar onde moram. 

Uma destas pessoas, que me deu a oportunidade de conhecer um tanto sobre os indígenas aqui no Brasil foi o Druida do Vento - o dono da risada mais poderosa ( e divertida) que eu já vi. Eu aprendi sobre os Encantados com a fada do Acre. Eu descobri que tenho uma irmã gêmea celta, balancei minhas saias coloridas dançando músicas irlandesas, passei de um mundo pra outro, bebi hidromel e gargalhei, e tudo isso no meio de uma crise alérgica sem precedentes. E, ainda por cima, fui anfitriã em uma tarde de domingo cheia de fotos e passeios na minha cidade. 

 Com o povo celta eu aprendi e continuo aprendendo, pois ainda mantemos contato, a me reconectar com a natureza de uma maneira diferente, através da ancestralidade da terra. Eles não tem deuses de um povo, mas de vários, de gauleses, escoceses, irlandeses... Eles são reconstrucionistas, druidas, os que tem sua própria denominação,ou mesmo não tem. E todas essa diferença, junto com a questão da ancestralidade da terra,  acrescenta uma variedade que acaba criando experiências de religiosidade muito singulares mesmo. 

Awen, seus lindos. Espero ser sempre bem recebida por vocês. 

P.S: o Druida do Vento fez um post mó lindo sobre o que rolou. Se quiser, espie aqui.

30 de jun. de 2014

De repente, 30 - S06

Bicho pegou, postagem atrasou. Retomando. ;)

Semana 6 – Outras deidades e entidades relacionadas com a deidade

Khepera
No Egito não existe somente uma cosmogonia. Elas mudam de acordo com o tempo e com o lugar. É assim que existe mais de uma divindade criadora além de Khepera. Por este viés, cito Rá, Tem, Ptah. Já pelo aspecto solar, Rá.

Set
Ahn... então. Não tem nenhuma outra deidade/divindade que possa se relacionar com Ele porque os seus atributos são únicos. Mas vamos ver... se pensar por cor, eu diria Sekhmet já que ambos tem a ver com Vermelho. E... é, só isso. Pois é. 






18 de jun. de 2014

De repente, 30 - S05

Semana 5 – Família da deidade, árvore genealógica.

Khepera

Então, quando se é um demiurgo, não é muito difícil falar de sua árvore genealógica:

Nun -> Khepera -> A vida, o Universo e tudo mais.

Indo além, numa prosa com a Paut sobre esta questão familiar específica de Khepera, pensamos que seria legal falar, talvez de nós, que somos Suas filhas.  
Atualmente, somos três as filhas de Khepera: eu, Paut e a Shu, nossa irmã caçula e importada dos EUA. Passei um bom tempo na HON sendo a única das filhas de Khepera e alguns anos mais tarde, quando a Paut foi divinada como sendo filha Dele também foi muito legal, porque já mantínhamos uma amizade grande. 
Aí, em 2012 veio a Shu e eu tive a oportunidade de participar da cerimônia de nomeação dela e acabar sendo uma das madrinhas da filhinha dela também - adoro as surpresas do universo! Até agora não apareceu nenhum filho de Khepera, mas vamos ver se a família aumenta, né? 

Set

Montei um esquema que fica fácil de visualizar quem é parente de quem. Enjoy!